Muito se fala atualmente da representatividade no cinema e como ao longo dos anos Hollywood ainda persiste em desrespeitar diversas culturas seja realizando o famoso embranquecimento dos atores em determinados papéis de outras etnias ou contratando artistas das mais variadas raças para fazerem os mesmos personagens caricatos de sempre, cheios de estereótipos que em pleno 2017 não deveriam ser mais alimentados. Sabe aquela parada do asiático sempre ser o craque em matemática ou computação no seriado teen? Ou o jovem latino de lar despedaçado e envolvido com drogas? Pois é, se fosse para fazer uma lista de quantas vezes a indústria do cinema explorou tais papéis, eu ficaria muitas noites e dias sem dormir escrevendo por aqui e essa não é a minha intenção, mas sim apresentar um documentário que exibe essas situações lastimáveis e retrata acertadamente uma das comunidades mais esquecidas e ao mesmo tempo mais judiadas da TV e do cinema: os povos indígenas.
Eu assisti Reel Injun em um momento de zero expectativas e ainda bem que recebi uma bela surpresa com este documentário de 1h25 minutos, dirigido por Neil Diamond, Catherine Bainbridge e Jeremiah Hayes. Reel Injun mostra com cenas de filmes e muitos depoimentos, como os índios norte-americanos são abusivamente mal retratados nas telonas desde que os tempos são tempos. Na realidade, me sinto segura em afirmar que o gênero Western se resume basicamente nisso: homens brancos que não se cansam de caçar índios. Sempre com a mesma ladainha repetitiva, eles são selvagens, invasores, sequestram mulheres dos povoados e atacam sem motivo aparente. Quando existe um papel positivo dessa raça, é normalmente mostrando o índio como amigão do cowboy bruto, a voz da razão ou todo atrapalhado para dar veia cômica ao roteiro. Pior ainda quando Hollywood quer dar um toque sobrenatural ao personagem e coloca aquele índio curandeiro, capaz de falar com os mortos, praticar canibalismo e se transformar em animais, mostrando um comportamento místico, assustador, praticamente satanista, um afronte aos heróis brancos bonzinhos servos de um único Deus. Ah sim, esqueci de comentar que nenhuma dessas figuras são realmente interpretadas por índios ou ao menos descendentes dos mesmos, mas por algum ator ou atriz caucasianos que foram indicados a tomarem muito sol, pintarem uns tracinhos vermelhos no rosto e colocarem um peruca preta e longa na cabeça.
Apenas alguns exemplos de brancos pagando um mico sem tamanho. |
Sério, quantos famosos com o sangue indígena nos conhecemos? Eu só consigo pensar no ator principal de Machete, Danny Trejo que é meio índio e meio mexicano e no inesquecível, Will Sampson, mais conhecido por viver Chefe Bromden no ganhador do Oscar, Um Estranho no Ninho. Inclusive em Reel Injun é contado o surreal caso do ator Iron Eyes Cody que virou um símbolo do bravo índio aparecendo em filmes, programas de TV e publicidade, escrevendo livros e lutando pelas causas dos povos indígenas quando na realidade o homem era 500% ITALIANO. Ele morreu jurando que não era europeu, mesmo que seus filhos e outros parentes próximos o desmentisse.
O índio menos índio que você respeita. |
Dessa forma, muito indico Reel Injun para quem tem interesse em descobrir mais sobre uma cultura que desde sempre foi violentada pelos grandes estúdios, mas que também possui alguns excelentes produtores, diretores e roteiristas que trabalham incansavelmente para ter o seu povo bem representado. É o caso do longa Sinais de Fumaça que é bastante aplaudido no documentário.
Um dos ótimos quotes de Sinais de Fumaça. |
Infelizmente ainda não vi, ele é da década de 90 e meio B-side, mas espero qualquer hora dessas assistir pela primeira vez uma obra que não trata o povo indígena com deboche, mas com o respeito que eles merecem.
Muito Indico: Reel Injun
Data de lançamento lá fora: 19 de fevereiro de 2010
Gênero: Representatividade, Preconceito, Análise
Onde assistir: Netflix
Excelente
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